Islândia (2024) - introdução
- Fabio Braga

- 13 de fev.
- 11 min de leitura
Atualizado: 21 de set.
"Photography isn't about just pushing that button. It's about the experience of being there."
– Don McCullin "Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo." – Clarice Lispector (adaptado do livro "Um Sopro de Vida")

Este é o relato da minha viagem solo à Islândia, entre maio e junho de 2024, com dicas de viagem, fotografia e curiosidades sobre o país.
Meu interesse em relação à Islândia surgiu por conta de uma colega de trabalho que visitou a ilha com o marido e criou um blog, que infelizmente já saiu do ar. Além disso, me impressionei com as locações na ilha do filme "A Vida Secreta de Walter Mitty".
Anos depois, mais exatamente em 2017, comecei a levar a fotografia mais a sério após fazer um workshop com o fotógrafo e professor Armando Vernaglia. Posso dizer seguramente que este hobby foi o fator decisivo para realizar esta viagem.
Se você ainda não conhece o trabalho do Armando, recomendo seguir suas redes sociais e adquirir seus cursos de fotografia. Mais detalhes em https://vernaglia.com.br.
Neste primeiro post, vou compartilhar dicas de planejamento. Separei os temas por tópicos, para facilitar a consulta.
Visão geral
Antes de entrar em detalhes, é importante lembrar que a Islândia é um dos países mais seguros do mundo, mesmo para homens e mulheres em viagem solo. É claro que precauções básicas devem ser tomadas, mas, de modo geral, é uma viagem bem tranquila nesse sentido.
Em todos os locais onde precisei interagir com a população local, sempre falei em inglês. Praticamente todos os habitantes da ilha são fluentes na língua, portanto a comunicação é bem tranquila. Se quiser arriscar algo em islandês, deixo um pequeno guia que encontrei em um café no fim da viagem:

Planejamento financeiro
O primeiro aspecto fundamental a considerar é o custo da viagem: a Islândia é um destino caro. Muito caro. Para quem vive no Brasil, a melhor estratégia é comprar moeda forte aos poucos. No meu caso, optei por acumular Libras Esterlinas por mais de um ano antes da viagem, já que faria escala e passaria alguns dias em Londres, antes de seguir para Reykjavik e de retornar a São Paulo.
Para gerenciar os recursos, utilizei uma conta da Wise (wise.com), que oferece cartões de débito físico e virtual, com fácil conversão de Reais para várias moedas estrangeiras. É possível utilizar Pix e converter o dinheiro instantaneamente a taxas razoáveis. Na Islândia, as máquinas leitoras de cartão cobram em ISK (Coroa Islandesa) e a Wise converte o saldo em Libras/Dólares/Euros automaticamente no momento da compra, na cotação comercial mais acréscimo de uma taxa, simplificando os pagamentos. Até a data da minha viagem, não era possível manter saldo em ISK na Wise com um cartão brasileiro.
Não pense por um momento sequer em usar um cartão de crédito em Reais emitido por bancos no Brasil para pagar despesas de viagens internacionais, pois o spread (cotação efetiva do dólar no cartão) é obsceno. É recomendável levar um cartão de crédito brasileiro com bom limite livre, porém apenas para uso em caso de emergência.
Embora seja prudente levar um pouco de dinheiro em espécie, optei por não carregar nada comigo. Apenas saquei algumas Libras ao chegar no hotel em Londres, onde o cartão da Wise funcionou em todas as ocasiões, tanto na Islândia quanto em Londres, incluindo o metrô por aproximação com telefone e Apple Watch. No fim, usei dinheiro em espécie apenas para comprar um sorvete em Londres (a barraca tinha um pequeno cartaz onde se lia "keep cash alive") e no duty free do aeroporto de Heathrow, antes de retornar a São Paulo.
Roteiro
A primeira decisão a ser tomada ao planejar o roteiro foi definir a quantidade de dias disponíveis para a viagem. No meu caso, estabeleci como premissa dar a volta completa na ilha, o que me levou a reservar 8 dias na estrada, totalizando 10 dias no país.
Optei por abrir mão da região mais turística e de fácil acesso a partir da capital, conhecida como Golden Circle, para focar na volta à ilha.
Se você tiver mais tempo disponível, recomendo fortemente que reserve dias extras para contornar toda a ilha pela Ring Road, a estrada número "1" e principal via do país e, ao mesmo tempo, incluir o Golden Circle.
Existem outras regiões menos visitadas, como as Highlands e os Westfjords, caso você tenha interesse em fugir ainda mais do circuito tradicional.
Usei o Google Maps para planejar o itinerário, salvando todos os pontos de parada que pretendia fotografar, bem como as localidades onde passaria as noites. Mais adiante, vou compartilhar o mapa completo no formato do Google Maps.
Preferi ficar em hotéis, mas, para uma viagem mais econômica, é possível alugar "camper vans" e pernoitar em campings espalhados pelo país, que oferecem estruturas com banheiros e chuveiros, mediante pagamento de taxas.
Uma dica valiosa é o site safetravel.is, que permite registrar sua viagem, incluindo contatos de emergência. Isso é particularmente sensato e importante se você estiver viajando sozinho. No meu caso, registrei os hotéis e os horários nos quais me programei estar em cada local e compartilhei com a minha família.
O roteiro detalhado, com as paradas e os hotéis onde pernoitei, está na tabela abaixo. Houve um imprevisto entre o sexto e o sétimo dia de viagem, que me obrigou a modificar o roteiro. Detalharei o que fiz em cada um dos dias e falarei sobre este evento mais à frente, mas já adianto que o planejamento de uma viagem para a Islândia pode mudar de forma repentina durante a sua estadia. Esteja preparado !
Reykjavik - Skuggi Hotel by Keahotels | 28/05/2024 10PM |
Vik - Hotel Katla by Keahotels | 29/05/2024 10PM |
Vik - Hotel Katla by Keahotels | 30/05/2024 10PM |
Höfn - Hotel Höfn | 31/05/2024 10PM |
Seyðisfjörður - Hótel Snæfell | 01/06/2024 10PM |
Akureyri - K16 apartments | 02/06/2024 10PM |
Akureyri - K16 apartments | 03/06/2024 10PM |
Grundarfjordur - Kirkjufell Guesthouse and Apartments | 04/06/2024 10PM |
Grundarfjordur - Kirkjufell Guesthouse and Apartments | 05/06/2024 10PM |
Keflavik - Aurora Hotel at Reykjavik-Keflavik Airport Terminal KEF | 06/06/2024 8PM |
Outra decisão crucial é definir em qual época do ano para viajar. O verão é a temporada mais movimentada, com preços mais altos e grande fluxo de turistas nas principais atrações.
Nas outras estações, existe a possibilidade de ver a aurora boreal, mas o risco de estradas fechadas e interrupções na viagem devido às condições meteorológicas extremas é muito elevado. Para quem não tem experiência em dirigir na neve, alugar um carro no inverno, ao menos na minha opinião, não é uma opção sensata, ainda mais em uma viagem solo. Por isso, optei por viajar no final da primavera, o que me trouxe uma grande vantagem: clima mais ameno e dias extremamente longos, que proporcionaram maior flexibilidade ao roteiro. Durante a minha viagem, o sol se punha depois das 2 da madrugada e nascia novamente por volta das 4.
Se a complexidade do planejamento assustar, saiba que existem empresas que organizam viagens self-drive com acompanhamento remoto, além de pacotes de excursões com motoristas e roteiros incluídos. Caso seu objetivo principal seja ver e fotografar a aurora boreal, visitando a Islândia no inverno, recomendo fortemente contratar uma empresa especializada, que conta com motorista e serviço de previsão de locais, horários e intensidade das auroras. Vou deixar um link para uma delas no final deste relato.
Por fim, vamos falar sobre como voei para a ilha: consegui um preço melhor comprando bilhetes separados pela Latam, do Brasil para para Londres e British Airways, de Londres para a Islândia. Comprar com antecedência é fundamental para não deixar um rim com as companhias aéreas. Adquiri as passagens mais ou menos oito meses antes da viagem, parcelando os valores em Reais.
Aluguel de carro
Pesquise preços e a reputação das empresas de locação. Sites como o Trustpilot (trustpilot.com) podem fornecer informações valiosas por meio de avaliações de usuários.
Eu aluguei meu veículo na Lava Car Rental (https://www.lavacarrental.is). A Lava oferece serviço de transfer com uma van do aeroporto de Keflavik até o escritório da locadora.
Prepare-se financeiramente: o valor que paguei pela locação de 10 dias foi praticamente o mesmo das passagens aéreas ida e volta São Paulo - Londres - Keflavik.
Recomendo optar por um veículo 4x4. Mesmo que você não planeje atravessar riachos ou dirigir em terrenos lamacentos, pode surgir a oportunidade de visitar algum local acessível apenas por uma F-Road, como os islandeses chamam as estradas de terra ou cascalho. De acordo com as regras de trânsito na Islândia, apenas carros com tração nas quatro rodas (4WD ou 4x4) são permitidos nessas estradas.
A carteira de motorista do Brasil ou de qualquer país com alfabeto latino é válida para retirar o carro (consulte novamente na época da sua viagem). Levei a permissão internacional por precaução, mas não foi necessário.
Seja prudente e use o bom senso! As estradas na Islândia são pouco policiadas e, apesar do limite de velocidade relativamente baixo (90 km/h), muitos trechos sem guard-rails apresentam riscos, como pontes de pista única, barrancos e precipícios. Algumas curvas em montanhas, sem proteção e com limites de velocidade em torno de 50 km/h, exigem atenção redobrada.
Agora, um conselho muito importante sobre locação de carros na Islândia: contrate um seguro total para o veículo, com todos os opcionais, incluindo cobertura para danos aos vidros. Logo no meu primeiro dia na estrada, uma pequena pedra arremessada por um caminhão causou uma trinca no para-brisa. Na devolução do veículo, o atendente me informou que, sem o seguro total, a franquia custaria cerca de USD 200 e o conserto em torno de USD 1000 para a locadora. A paz de espírito proporcionada por um seguro total não tem preço. Não vale a pena comprometer a segurança e o prazer de uma viagem incrível por uma pequena economia.
Por fim, uma dica para curtir a viagem enquanto dirige. Crie uma uma compilação no seu serviço de streaming preferido, com músicas para entrar no clima da viagem. Deixarei o link da minha playlist da Islândia no Spotify aqui:
Roupas: o que vestir ?
Existe muito material na Internet a respeito do que vestir na Islândia. Consulte o Google e, principalmente, vídeos no YouTube.
O que funcionou para mim:
calça impermeável para ski, com tecido externo isolante estilo neoprene e interior aveludado - levei para dias mais frios mas acabei usando quase o tempo todo; se possível, leve ao menos duas; as calças táticas que levei para dias menos frios acabaram ficando na mala na maior parte do tempo
meias de lã "merino", de ovelha, cano médio para dias mais frios: muito caras, mas provavelmente serão as melhores meias que você vai usar na sua vida
meias de inverno comuns de cano médio
bota impermeável Qechua - usei pouco, mas recomendo levar se você pretende caminhar por terreno molhado, lamacento ou mesmo para situações imprevistas
tênis de caminhada Skechers, que quase não resistiu aos 192km caminhados em Londres e na Islândia, nas duas semanas de viagem; recomendo marcas mais robustas, como Timberland, North Face ou Columbia
jaqueta impermeável com capuz, gola alta e fleece interno removível
segunda pele com gola alta - ajudaram muito em dias frios e/ou com vento forte.
gorro que cubra cobrindo a cabeça e as orelhas, bem como luvas com isolamento térmico 3M, fundamentais para proteção contra vento forte e frio
óculos de sol para dirigir
a depender da época, leve protetor solar: não cheguei a me queimar mas o sol da primavera bronzeou meu rosto - no verão, é possível que a exposição prolongada ao sol possa causar incômodo
Acredito que esta lista seja uma boa referência inicial para qualquer viajante. Como já dito aqui, consulte vídeos e material disponível na Internet para tomar suas decisões.
Você certamente verá nas suas consultas que o conceito de se vestir em "camadas" é sempre indicado e, de fato, funciona muito bem na Islândia, já que o clima pode variar de forma radical ao longo de apenas algumas horas.
Como última dica, se você pretende comprar roupas de inverno no Brasil, vá até uma loja da Decathlon. Comprei lá a maior parte do material e achei os preços bem honestos.
Equipamento fotográfico: o que levar ?
Essa é uma dúvida comum entre fotógrafos, porém você encontrará inúmeros vídeos também sobre este assunto no YouTube. Além da pesquisa em vídeos e blogs, fiz uma consultoria online com o Ale Rodrigues, fotógrafo profissional e professor, que já contava com a experiência de duas viagens à Patagônia, com clima e paisagens similares ao meu destino.
Se você ainda não conhece o Ale, recomendo que siga suas redes e participe dos workshops de longa exposição e expedições fotográficas que ele organiza. Mais detalhes em https://alerodrigues.com.
Vou focar no que funcionou para mim, começando pelo corpo da câmera: antes da viagem, eu tinha uma Canon EOS RP, mas senti a necessidade de uma câmera selada, já que a maior parte das fotos seria capturada em ambientes externos e, eventualmente, em condições adversas como vento forte, garoa, maresia e areia. Durante uma viagem de trabalho aos EUA, consegui comprar uma EOS R (fora de linha) com embalagem aberta em uma loja de equipamentos fotográficos por um valor bem razoável.
Nesse ponto, você pode estar questionando porque não comprei uma câmera nova, como uma EOS R6 Mark II, já disponível na época. Pois bem, o custo apenas do corpo da R6 no momento da compra seria de aproximadamente USD 2.400, contra USD 1.000 da R usada. Com a diferença de preço, comprei uma lente RF 14-35 F/4 L, que se revelou um equipamento fundamental durante a viagem. Se você tiver um orçamento ilimitado é outra história, mas se estiver pensando em custo-benefício, considere as opções com cuidado.
Desta forma, levei uma câmera selada e ainda fiquei com um bom corpo de câmera como backup, ambas com o mesmo sistema de lentes (Canon RF). Levar uma câmera extra pode parecer um exagero, mas neste vídeo do Todd Dominey (https://youtu.be/RYVHFf56raM?si=IETGy1Ez3xeczdaJ) você verá que não é, considerando o custo, planejamento e as dificuldades inerentes a uma viagem à Islândia.
Para cada corpo de câmera, levei um conjunto de 3 baterias. Não cheguei a usar a terceira bateria da R em nenhum momento, mas se você viajar no inverno, tenha em mente que a duração das baterias é reduzida em baixas temperaturas.
Antes de falar sobre outros equipamentos, é importante destacar a mochila que usei para transportar todo o material: uma LowePro ProTactic BP 450 AW II. Comprar essa mochila foi uma das decisões mais acertadas que tomei durante os preparativos para a viagem. Mesmo que você tenha outras preferências, escolha a mochila com cuidado, levando em conta suas necessidades específicas.
Abaixo, a lista das lentes que levei:
Canon RF 14-35 F/4L
Canon RF 24-105 F/4L
Canon EF 70-300 F/4L (com adaptador EF/RF)
Canon RF 35mm F/1.8 IS (usei apenas para fotos de rua noturnas em Londres)
Não economize nas lentes. Considere levar um amplo leque de distâncias focais como este, de 14mm a 300mm ou mais. Nunca se sabe o que você terá oportunidade de fotografar, pois a Islândia oferece uma gama infinita de possibilidades para fotografia de paisagem e natureza.
Outro acessório importante é o tripé: na minha consultoria com o Ale, decidi que usaria o mesmo modelo que ele levou para a Patagonia, o Artcise CS60C (https://www.amazon.com/gp/product/B0B2RX89PC/ref=ppx_yo_dt_b_search_asin_title?ie=UTF8&psc=1). Eu tenho um outro bom tripé da K&F, que coincidentemente também havia sido testado por ele, porém avaliado no review como um equipamento não adequado para condições de vento forte. Daí a decisão pelo Artcise.
Um acessório importante a se considerar para o tripé é um conjunto de "spikes", ou pontas de metal, para fixar o equipamento em superfícies moles, como terra ou areia. O Artcise CS60 já vem com um conjunto de spikes. Cuidado para parafusar bem os spikes nas pontas ao preparar o tripé, pois perdi um deles durante a viagem.
Caso tenha outra marca/modelo em mente, considere um meio termo entre um tripé muito pesado e um outro muito leve. Muito peso pode te atrapalhar nas caminhadas, enquanto um outro muito leve pode te deixar na mão em condições adversas de clima. Este é outro equipamento no qual não vale a pena economizar.
Se você tiver interesse em fazer fotos de longa exposição, segue a relação dos filtros que levei:
conjunto de suporte e filtros quadrados Lee ND, de 6, 10 e 15 stops, com filtro polarizador
conjunto de suporte e filtros graduados Lee de 0.3, 0.6 e 0.9
filtros quadrados K&F de backup com suporte: um ND 10 e um graduado 0.3
filtro redondo UV K&F, usado apenas para proteção da lente em algumas ocasiões
filtro redondo polarizador K&F
Embora eu tenha levado conjuntos de filtros quadrados, fiz esta opção apenas porque já tinha os equipamentos. Se você ainda não possui filtros ou está pensando em trocar seu conjunto, considere comprar filtros magnéticos, muito mais fáceis de operar do que os quadrados com suporte de encaixe.
Outros acessórios que levei e recomendo:
conjunto de limpeza de sensor com cotonetes e álcool isopropílico
lenços descartáveis Zeiss para limpar lentes
borrifador de ar e panos de limpeza para lentes
suporte L-bracket para troca rápida da posição horizontal/vertical da câmera no tripé
anel de apoio (ring) da lente EF 70-300 F/4L para tripé (não usei)
case para filtros ND (levei todos em um único estojo)
disparador com fio
estojo de plástico rígido para cartões de memória
Nos próximos posts, publicarei o diário da viagem.



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