top of page

New York (2000) - memórias de um mundo desconectado

  • Foto do escritor: Fabio Braga
    Fabio Braga
  • 3 de ago.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 6 de ago.

teria sido o final da década de 90 o auge da civilização humana ?
teria sido o final da década de 90 o auge da civilização humana ?

Este é um post sobre minha primeira viagem internacional, mas ao mesmo tempo, uma reflexão sobre as mudanças no mundo ao longo deste último quarto de século.


Em 2000, migrei da área de TI para a então incipiente indústria de automação residencial e de ambientes corporativos. Fui a New York no mesmo ano, para participar de um treinamento na minha nova área profissional, em Rockleigh, New Jersey.


Todas as fotos deste post foram feitas com filme e uma câmera "point and shoot" Yashica - as primeiras câmeras digitais mal haviam sido lançadas e tinham péssima resolução.


em frente ao The Plaza
em frente ao The Plaza

Como disse a agente Scully em "Arquivo X", sou "Pre-Google": faço parte das últimas gerações de humanos que viveram em um mundo desconectado. Eram outros tempos: no lugar de cartões de débito internacionais, com saldo e conversão automática de múltiplas moedas e criptoativos, papel moeda. No lugar do celular com roaming internacional, ligações para casa feitas do telefone fixo do hotel, a custos impensáveis hoje em dia. Compras com cartão de crédito eram feitas off-line, em máquinas manuais. No lugar do GPS, mapas e guias de metrô impressos. As redes sociais, para o bem e para o mal, ainda não eram populares.



máquina manual para emitir boleto de compra com cartão de crédito e fatura

(por isso os cartões tinha os números em relevo, para poder marcar o carbono das vias)


Cheguei em NY numa quinta-feira com muita neblina. Próximo ao pouso no JFK, pude ver da janela do avião parte das torres gêmeas do World Trade Center projetadas para fora da névoa, que cobria praticamente todos os demais prédios da cidade. Olhando para trás, fica evidente a imprevisibilidade do destino, já que pouco mais de um ano depois, aqueles prédios não existiriam mais.


bilhete de embarque da viagem de volta (não compatível com Apple Wallet)
bilhete de embarque da viagem de volta (não compatível com Apple Wallet)

Sair do país pela primeira vez sozinho, aos 28 anos, me causou certa apreensão, ainda mais sem as facilidades de hoje e por finalmente colocar à prova o que aprendi nas minhas aulas de inglês.


Como era de se esperar, mal desembarquei e já fiz uma bobagem: não entendi bem o conceito de "currency or monetary instruments" do formulário de alfândega e somei o dinheiro em papel moeda que levava com os limites dos cartões de crédito, o que me levou a ser questionado pela alfândega por que estava entrando no país com tanto dinheiro. Depois de explicar meu erro e responder algumas perguntas aleatórias sobre a empresa onde faria o treinamento, finalmente fui liberado e segui para New Jersey.


Retornei a New York no final da sexta-feira, logo após o término da primeira parte do treinamento. O plano era aproveitar o fim de semana em Manhattan, encontrar meu irmão — que trabalhava comigo e participaria da segunda etapa do curso na semana seguinte — e rever um amigo de infância, que até hoje vive em Boston.


com meu irmão, na Bethesda Fountain
com meu irmão, na Bethesda Fountain

Alguns lugares precisam ser vividos, não apenas vistos. New York é um deles. Por mais que eu já tivesse visto a cidade em incontáveis filmes e fotos, nada se compara ao impacto de estar ali pela primeira vez. Peguei um trem de subúrbio na estação de Tarrytown e desembarquei em Manhattan — se não me falha a memória, na estação da Rua 57, perto do Plaza, que na época ainda funcionava como um hotel tradicional e onde meu amigo estava hospedado.


com meu amigo de infância, no Central Park
com meu amigo de infância, no Central Park
vista do quarto do The Plaza
vista do quarto do The Plaza

Observar a grandiosidade dos edifícios ao sair do metrô é uma memória que levarei para o resto da vida. A sensação de ver New York com os próprios olhos, pela primeira vez, é algo que não se esquece.


vista da Park Avenue com o edifício MetLife ao fundo, quase totalmente coberto pela névoa
vista da Park Avenue com o edifício MetLife ao fundo, quase totalmente coberto pela névoa

na estação de trem de Tarrytown e em alguma estação de metrô em Manhattan


Infelizmente, por conta do mau tempo, não visitamos o WTC, e acabei não tendo a oportunidade de conhecer as torres antes dos atentados de 11 de setembro, no ano seguinte.


Tenho a sensação de que o 11/9 foi um divisor de águas para a minha geração. Naquele momento, o Brasil finalmente havia controlado a hiperinflação. O mundo parecia caminhar para uma era de integração comercial e de crescente conectividade — impulsionada pela então recém-criada Internet, liberada ao público em 1993 — e vivíamos um raro período sem grandes conflitos militares.


Depois do atentado, sinto que o mundo mudou, em alguns aspectos, para pior: crises econômicas em série, polarização política crescente, mudanças climáticas se agravando, pandemias, guerras e o impacto ambíguo da tecnologia, especialmente com a popularização das redes sociais.


Pode ser saudosismo, mas confesso que concordo com o tweet sobre a Matrix que incluí no início do post. Mesmo com todos os problemas da época, acredito que o período final da década de 1990 foi, até agora, o auge da civilização humana.


Até a próxima viagem...


para amenizar o tom melancólico deste final de post, uma foto cliché de dois simpáticos roedores no Central Park
para amenizar o tom melancólico deste final de post, uma foto cliché de dois simpáticos roedores no Central Park

 
 
 

Comentários


  • Instagram
bottom of page